
Mesmo diante de um cenário econômico marcado por juros altos e maior cautela nas decisões de investimento, os terrenos seguem se destacando como ativos de valor estratégico no mercado imobiliário. Diferentemente de outros imóveis, que podem exigir maior liquidez no curto prazo, os terrenos mantêm sua atratividade pela possibilidade de valorização de médio e longo prazo, permitindo que incorporadoras e investidores aguardem o momento mais oportuno para a implantação dos projetos.
De acordo com Juliano Oliveira, gerente da Quadra Corporate, essa resiliência está associada a alguns fatores centrais: “Um deles é a proteção de valor. Outro ponto importante é a escassez de terrenos bem localizados, especialmente em cidades como São Paulo. Mesmo em momentos de retração, a demanda por novas áreas para projetos continua existindo, ainda que os projetos precisem ser planejados com mais cautela e no longo prazo”. Além disso, ele destaca que, mesmo em stand-by, o terreno pode gerar renda temporária, por exemplo, com locação para estacionamento ou galpões provisórios.
Essa visão é respaldada por dados do estudo realizado pelo Secovi-SP em parceria com a Porsche Consulting, que aponta a aquisição de terrenos como a terceira maior prioridade de investimento das empresas do setor nos últimos cinco anos. A análise, que envolveu 51 empresas de diferentes portes, mostra que, mesmo em um setor tradicionalmente pouco inovador, as incorporadoras estão cada vez mais atentas às oportunidades proporcionadas pela tecnologia aplicada à aquisição de terrenos.
Juliano Oliveira observa ainda uma mudança clara no comportamento dos incorporadores nos últimos anos: “Há mais cautela e racionalidade. As empresas estão priorizando localizações com liquidez comprovada e se aprofundando nas análises de viabilidade. Além disso, as permutas físicas vêm ganhando espaço como alternativas de negociação.”
Outro fator que reforça o valor dos terrenos é sua função como landbank, ou seja, reserva estratégica de ativos. Essa prática permite que construtoras mantenham um estoque de áreas para futuras implantações, ajustando os lançamentos conforme o comportamento do mercado. No entanto, como alerta Oliveira, é necessário um planejamento criterioso: “Manter terrenos em stand-by tem custos, como IPTU, manutenção e riscos regulatórios. Por isso, é essencial analisar o timing de mercado e os custos envolvidos antes de decidir.”
Terrenos localizados em zonas com alto potencial construtivo, como as Zonas Eixo de Estruturação da Transformação Urbana (ZEUs), continuam sendo os mais valorizados mesmo em tempos de incerteza. Essas regiões oferecem coeficientes de aproveitamento elevados, permitindo projetos maiores e maior VGV (Valor Geral de Vendas), o que os torna alvo preferencial das incorporadoras.
Em um mercado em transformação, onde a inovação começa a romper barreiras históricas da construção civil, os terrenos se consolidam como alicerces estratégicos para o futuro das cidades. E, com o apoio da tecnologia, a escolha do solo onde se erguerá um empreendimento pode ser não apenas mais eficiente, mas decisiva para seu sucesso.