“Bom, para mim, pessoalmente, como arquiteta, arquitetura é estrutura. Quer dizer, a estrutura de um edifício é elevada ao nível da poesia, como parte da estética. Não há nenhuma diferença”, essa frase foi retirada do livro Lina por Escrito, da editora Cosac Naify e traduz o que a arquitetura representava para Lina Bo Bardi. A arquiteta foi uma das maiores referências da arquitetura moderna do século XX, ganhando reconhecimento internacional com projetos que mesclavam elementos da cultura brasileira com inovações tecnológicas e um profundo respeito pelo contexto social e ambiental.
Lina Bo Bardi nasceu em 1914, em Roma, na Itália. Seus estudos de arquitetura e carreira começaram pela Europa, ganhando notoriedade a ponto de Lina abrir seu próprio escritório. Sua vinda para o Brasil acontece no cenário pós-Segunda Guerra Mundial, onde a arquiteta e o marido Pietro Maria Bardi decidem morar no Rio de Janeiro e mais tarde em São Paulo. Em 1956, Lina se torna uma cidadã brasileira, ela conta que “naturalizei-me brasileira. Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e da fronteira”.
Em 2024, Lina Bo Bardi ganha sua primeira mostra internacional. A exposição Lina Bo Bardi – Poesia do Concreto está sendo sediada em Berlim, na Alemanha, no Museu de Desenhos de Arquitetura, da Fundação Tchoban. Apesar da arquiteta já ter reconhecimento internacional desde 2021 com a conquista do Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza, sendo a primeira arquiteta brasileira a ganhar o prêmio. Esta será a primeira vez que suas obras serão expostas para o público europeu, ao todo, são 40 desenhos selecionados pela curadora Tereza de Arruda, todos fazem parte do acervo do Instituto Bardi.
Na exposição, é possível encontrar rascunhos e projetos conhecidos aqui no Brasil. O MASP (Museu de Arte de São Paulo), foi um dos trabalhos mais memoráveis de Lina Bo Bardi, sendo um símbolo da cidade de São Paulo. Fundado na década de 40, o projeto criou um espaço para estimular a cultura e os encontros entre o público e os artistas. Outro grande marco na carreira da arquiteta foi o projeto do SESC Pompeia, em Perdizes. O espaço cultural repleto de concreto e tijolos aparentes se tornou um ponto de encontro para quem se interessa por arte e cultura. A obra ganhou o prêmio de 6ª melhor construção em concreto do mundo, segundo o jornal The Guardian. Além disso, considerou o SESC Pompeia como um dos projetos mais relevantes do período pós-guerra.
A trajetória de Lina Bo Bardi é um testemunho de como a arquitetura pode transcender a funcionalidade e tornar-se um meio expressivo de diálogo cultural e social. Sua visão inovadora, que funde estrutura e poesia, levou-a a criar ícones arquitetônicos que são mais do que simples edificações: são manifestações de um compromisso profundo com a identidade e a vitalidade da sociedade brasileira.