“O que me conforta bastante é a sensação de dever cumprido. Eu me entreguei para o esporte de corpo e alma. Fiz tudo que podia e ele me devolveu ainda mais”, a frase dita por Gustavo Kuerten, o Guga, maior referência no tênis brasileiro, traduz com precisão o sentimento que o esporte pode proporcionar na vida de alguém.
O tênis entrou na vida de Murilo Romero muito cedo. Na infância, frequentava com os pais um clube em Itanhaém, litoral sul de São Paulo, onde viveu suas primeiras experiências com a raquete. Durante as férias, o clube promovia diversas atividades esportivas, incluindo o tênis. Embora essa fase inicial não tenha durado muito, o verdadeiro contato com o esporte começou aos 17 anos.
“A verdade é que eu não procurei o tênis, ele que me procurou”, conta Murilo. Ele explica que aos 17 anos, enquanto trabalhava em uma lan house, conseguiu uma oportunidade de trabalhar como pegador de bolas em uma academia de tênis. “Sempre que tinha um tempinho, nós da equipe de pegadores de bola, aproveitávamos para jogar um pouco”, comenta o professor. E foi a partir desse momento que ele se apaixonou pelo tênis, dando início a uma longa e promissora carreira na modalidade.

Depois de um tempo como pegador de bolinhas na academia, Murilo passou a ser rebatedor na academia, auxiliando os professores e alunos nas aulas. Foi durante esse período que surgiu a oportunidade de começar a participar de torneios de tênis com ajuda financeira de alunos e da família. Para chegar na Primeira Classe da Federação Paulista de Tênis, Murilo viveu um momento intenso em sua carreira.
“Acabei abrindo mão de muitas coisas para poder colher os frutos de atingir o alto nível do tênis”, explica o atleta. Entre muitos campeonatos e aulas, Murilo passou a se dedicar para alcançar resultados ainda mais expressivos. Determinado, ele conciliava o trabalho com treinos e aperfeiçoamento técnico, sempre em busca de superação. “Cheguei a jogar por volta de 200 a 300 torneios”, relembra. Todo esse empenho o levou a alcançar a primeira classe do tênis aos 23 anos e a conquistar o título de número 1 do Estado de São Paulo.
A transição para a carreira de professor se concretizou quando um amigo lhe ofereceu uma proposta para dar aulas de tênis. Motivado pela oportunidade, Murilo decidiu iniciar a faculdade de Educação Física, permitindo que ele unisse sua experiência prática com a formação acadêmica.
A pandemia trouxe visibilidade ao trabalho de Murilo, principalmente pelo fato de o tênis ser um esporte praticado ao ar livre e que permite o distanciamento social. Com o contato de alunos que já conheciam seu trabalho, Murilo começou a dar aulas para grandes personalidades brasileiras, como o cantor Thiaguinho e o ex-jogador Denílson. O professor também compartilha seu encontro emocionante com o ex-jogador Ronaldo: “Fiquei completamente arrepiado e sem acreditar que ele estava ali na minha frente. Eu assisti à Copa do Mundo de 2002, e foi um momento muito especial para mim”.
O talento e a dedicação de Murilo abriram portas para oportunidades únicas, incluindo a chance de ensinar tênis em alguns dos condomínios mais exclusivos do país, como a Fazenda da Grama e a Quinta da Baroneza. Os empreendimentos são conhecidos por sua infraestrutura completa de constante contato com a natureza, além dos espaços esportivos e de lazer.
“Não sei o que seria da minha vida sem o tênis”, relata Murilo. O professor explica que o esporte vai além da prática em si e traz diversos ensinamentos. “O tênis molda as pessoas; aprendemos a respeitar os outros, a ter educação na quadra e a desenvolver habilidades mentais e emocionais.” Ele destaca que, atualmente, existem projetos em São Paulo que buscam incentivar ainda mais a prática do tênis no Brasil. Um exemplo é o Bola Dentro, uma iniciativa citada por Murilo que ajuda meninos e meninas a iniciarem suas carreiras no esporte. “Muitos dos que começaram no projeto hoje são professores e árbitros de grandes torneios, como Wimbledon”, conta ele.
“A bolinha amarela me proporcionou tudo na vida”, afirma Murilo, refletindo sobre a profunda conexão que desenvolveu com o esporte ao longo dos anos. Ele acredita que o tênis não apenas moldou sua trajetória profissional, mas também sua personalidade. “Graças a ele, aprendi sobre disciplina, respeito e resiliência, valores que levo para todos os aspectos da minha vida.” Hoje, Murilo se dedica a transmitir esses ensinamentos para seus alunos, acreditando que cada interação nas quadras é uma oportunidade de inspirar e transformar vidas. Para ele, o tênis é mais do que um jogo: é um estilo de vida que continua a enriquecer sua história e a de muitos jovens que sonham em seguir seus passos.